quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

something on your mind – karen dalton



do álbum in my own time, de 1971.


sem rodeios: a melhor canção que ouvi em 2010. irrompe numa trovoada de bateria, culmina numa balbúrdia de violinos e não se sabe exatamente o que fazer enquanto seus três minutos explodem na caixa de som. casamento inigualável de letra e harmonia, karen fala de uma pessoa querida, como se tentasse entusiasmá-la pela vida do modo mais tenaz e afetuoso possível: o "didn't you know" do trecho "didn't you know, you can't make it without ever even trying?" tem o som da paciência e da perseverança, assim como o "maybe" de "maybe another day you'll want to feel another way". desde descobrir nas coisas alguma faceta positiva – "que esses tempos mostrem como você se afastou de seus sonhos" – até uma incrível referência bíblica nos versos "i've seen the writing on the wall/ who cannot maintain will always fall" – que predizem o inevitável declínio e ruína do outro –, a música é majestosa de verdade, uma imponência que só pode ser amealhada a partir da mais ferrenha e rabugenta empatia pelo outro. "não dá para conhecer direito as pessoas à sua volta quando elas escondem suas tristezas de você", assevera kath bloom em "the breeze/my baby cries", e "something on your mind" pega essa ideia e a infunde com uma força disruptiva que lembra o big bang, porque tudo parece começar a partir dela, ao seu término. ela parece deixar um rastro de apreço fortalecido, baseado plenamente na intimidade e no estar lá pelo outro. acompanhando os esforços dela para tirar do outro o que o incomoda, os "isn't it?" sucessivos de "something's on your mind, isn't it?" soariam tristes com ou sem os violinos plangentes. é o som de alguém vindo ao seu resgate.

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