segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

qui nem jiló – luiz gonzaga



do 78 rotações vira e mexe/qui nem jiló, de 1950.


uma canção impossivelmente pura, e isso me deixa sem saber o que fazer com ela. a cisão de saudade boa (a que não arde como jiló) e má (a que arde como jiló) faz sentido, mas não compreendo exatamente como a saudade de perder um grande amor possa ser boa. gonzaga justifica com "pro cabra se convencer/ que é feliz sem saber/ pois não sofreu", mas esses versos, assim isolados, fazem pouco sentido. tudo bem que logo no início é dito "se a gente lembra só por lembrar", então estamos diante de uma contemplação abrandada de uma relação extinta, cujo ponto final pode ter sido dado num momento em que as coisas não estavam de todo ruins, mas apenas não funcionando. a mensagem me parece ser: nostalgia é bom, mas só quando as coisas não tiveram tempo de ficar feias.

mas aqui está o pulo do gato: o eu-lírico tem essa atitude desprendida em relação ao amor que perdeu porque ele tem um novo amor! é por isso que nada faz muito sentido na primeira estrofe: ele não fica triste ao rememorar um amor antigo porque é mais feliz agora. e então sobrevém o segundo pulo do gato: ele não está nos braços de seu novo xodó ("eu tiro isso por mim/ que vivo doido a sofrer"). ao final, uma constatação lúcida à "to live is to fly", do townes van zandt, "mas ninguém pode dizer/ que vivo triste a chorar/ saudade, meu remédio é cantar". lucinda williams precisa escutar essa música.

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